domingo, 8 de novembro de 2009

Mr. Gorbachev, tear down this wall!

"A Mother and her dead Son" (Pieta) - Kathe Kollwitz

Ás vésperas do vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim, eu me sinto no dever de finalmente dar continuidade as postagens sobre minhas férias. Afinal, a recente viagem á Alemanha me faz entender o significado desta data com ainda mais sensibilidade.

Vim dedicando muito tempo em tentar escrever algo sobre minha ida a Berlim.Talvez minha maior dificuldade tenha sido porque não quero escrever apenas qualquer coisa. Sinto certa responsabilidade em fazer jus a tudo o que é Berlim – uma responsabilidade como cidadã do mundo ou até mesmo como internacionalista (carreira por opção e tesão por entender as cenas que construíram o mundo em que vivemos hoje).

Shakespeare uma vez escreveu “Todo o mundo é um palco e todas as mulheres e todos os homens são meros atores.” Eu diria que Berlim por si só já é um palco, por onde todos que lá passaram, foram meros “fatores”.

É difícil começar a escrever... O que dizer sobre uma cidade que durante décadas foi o centro das atenções do mundo? Onde nada acontecia sem que alguém soubesse... Onde qualquer deslize contra o sistema não saía impune. Berlim foi brutalizada. Não só uma vez, mas duas vezes consecutivas. Berlim foi dividida. Não só uma vez, mas duas vezes consecutivas. Berlim foi reconstruída. Não só uma vez, mas duas vezes consecutivas.

Ao caminhar por Berlim – pela linda e imponente Berlim – não podia deixar de imaginar as dores e cenas que ocorreram no local. A cada marca de bala nos edifícios (cicatrizes da cidade), a pergunta: quem teria sido o alvo? A cada pedaço remanescente do muro (cicatrizes da cidade), a pergunta: quantas famílias foram divididas?

Berlim é uma experiência mais que geográfica e histórica. É uma experiência sensorial, até mesmo psicológica, é sem dúvida uma experiência humana!

A primeira impressão foi de um ar de melancolia, uma sensação de que algo havia sido esquecido, foi quase como andar em uma cidade fantasma cheia de gente (turistas). Era sábado de manhã e talvez a sensação tenha sido meramente porque as pessoas ainda não haviam acordado. Ao longo do dia e da multidão de turistas, a sensação se repetia. Onde estariam os moradores da cidade? Foi então que nosso guia apresentou a explicação: Berlim é uma das cidades mais pobres da Alemanha, quase não possui investimento privado. O governo foi “obrigado” a simular obras com falsas fachadas, com andaimes, para que os turistas não tivessem a sensação da cidade ter sido abandonada. Reconheço os esforços do governo alemão, mas tenho que admitir que talvez isso dó funcione para o turista comum... Os mais perceptivos sentem a melancolia de Berlim.

Mas nem tudo é pesar naquela cidade. Como ela é linda! Sua beleza é tão imensa, que enche o coração de alegria, quase como se apaixonar pela primeira vez (não tivera eu já me apaixonado por Paris). O vento era gélido, porém acolhedor, como se a cidade estivesse querendo passar as mãos no meu rosto e dizer “seja bem-vinda”.

Berlim é mulher. Uma mulher que viveu de glórias, linda e majestosa! A dama mais amada do Império Prussiano. Uma dama que foi seqüestrada, saqueada, violentada e depois largada. Uma dama que após seu sofrimento, vive dos olhares caridosos, porém desviados, daqueles que poderiam ter-la protegido, mas estavam mais ocupados com outras frivolidades. Talvez por vergonha, hoje não conseguem olhar-la nos olhos. Vive dos olhares curiosos daqueles que de longe e há muito ouvem sua história. Mas Berlim É mulher e como a mulher que é, ela se mantém linda e imponente, como quem diz “Olhem para mim! Eu sou a mesma que sempre fui! Vocês não vão me ignorar e muito menos esquecer!”

No dia 09 de novembro de 1989, um homem cometeu um erro, sem querer salvou Berlim e talvez toda a humanidade da tirania da briga por poder. Parabéns Günter Schabowski, pelo erro mais bem cometido em toda a história contemporânea. Parabéns Riccardo Ehrman, pela pergunta mais oportuna em toda a história contemporânea.

Para quem gosta de arte, ficou curioso e quer saber mais sobre a foto acima:
http://www.lauranehr.com/blog/tag/kathe-kollwitz/
http://en.wikipedia.org/wiki/Neue_Wache

OBS.: A escultura fica sob uma abertura no telhado, exposta as condições climáticas, simbolizando o sofrimento das vítimas da tirania e da guerra.

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